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Como a Economia Comportamental Influencia Seus Gastos

Como a Economia Comportamental Influencia Seus Gastos

Como a Economia Comportamental Influencia Seus Gastos

Quando foi a última vez que você comprou algo e, logo depois, se perguntou: “Por que eu fiz isso?” Talvez tenha sido uma promoção irresistível, um café gourmet na cafeteria do bairro ou aquele par de sapatos que parecia te chamar pelo nome. A verdade é que, muitas vezes, não compramos com a razão compramos com a emoção. E é exatamente aí que entra a economia comportamental, uma área fascinante que escancara como nossas decisões financeiras estão muito longe de serem puramente lógicas.

Por mais que a gente goste de acreditar que é racional quando se trata de dinheiro, as pesquisas mostram o contrário. Nossas emoções, hábitos, impulsos e até o ambiente em que estamos influenciam o modo como gastamos. Não é por acaso que os supermercados colocam chocolates perto do caixa ou que aplicativos de delivery piscam com “ofertas relâmpago” bem na hora do almoço. Tudo isso é pensado com base em como a mente humana realmente funciona e não em como ela deveria funcionar.

A economia comportamental é, portanto, como um espelho que reflete nossas contradições e nos ajuda a entender por que, muitas vezes, sabotamos nossos próprios planos financeiros. Ela revela que decisões como “vou economizar esse mês” podem ser facilmente abaladas por uma notificação no celular ou pelo simples cheiro de pão quente na padaria da esquina. Mas calma: entender esses mecanismos não é um convite à culpa, e sim uma oportunidade de tomar decisões mais conscientes e inteligentes.

O poder da emoção nas decisões financeiras

Imagine que você teve um dia péssimo no trabalho. Ao passar por uma vitrine, vê um item que desejava há semanas. A lógica sugeriria que talvez não fosse o momento ideal para gastar. Mas a emoção fala mais alto, como se aquele objeto pudesse compensar todas as frustrações do dia. Você compra. E por um momento, se sente melhor.

Esse é um exemplo clássico de gasto emocional, e ele acontece com mais frequência do que imaginamos. Não compramos só por necessidade. Compramos por carência, por ansiedade, por empolgação e até por tédio. A economia comportamental nos mostra que o cérebro busca recompensas imediatas como forma de aliviar o desconforto, mesmo que isso prejudique o nosso bolso a longo prazo.

Inclusive, o sistema de recompensa do nosso cérebro aquele que libera dopamina quando sentimos prazer não diferencia uma conquista real de uma compra por impulso. É como se ele dissesse: “Isso me faz feliz agora. Vamos nessa!” Só que depois, vem a ressaca emocional, especialmente se a conta estiver apertada.

Ancoragem: quando o preço dita nossa percepção de valor

Você já reparou como a primeira informação que recebemos sobre um produto costuma influenciar todo o nosso julgamento? Se o primeiro tênis que você vê custa R$ 800, e o próximo custa R$ 400, a tendência é achar o segundo uma “pechincha”. Mesmo que, em outro contexto, R$ 400 fosse um valor alto.

Esse fenômeno se chama ancoragem, e é uma das armadilhas mentais mais comuns. Vendedores usam isso o tempo todo. Mostrar um produto caro primeiro cria uma âncora mental. Assim, qualquer coisa depois disso parece mais barata mesmo que, objetivamente, não seja.

Esse truque não serve só para vender produtos, mas também para serviços e experiências. Pacotes de viagem, por exemplo, costumam começar pelo “premium” para que as versões mais simples pareçam mais acessíveis. E nós, muitas vezes, caímos direitinho.

O viés do presente: um inimigo da poupança

Se te dessem R$ 100 hoje ou R$ 150 daqui a um mês, o que você escolheria? A maioria das pessoas opta pelos R$ 100 agora. Por quê? Porque temos uma tendência natural a valorizar o presente muito mais do que o futuro. Esse comportamento é chamado de viés do presente.

Ele ajuda a explicar por que tanta gente tem dificuldade em guardar dinheiro, fazer investimentos ou simplesmente adiar uma gratificação. É como se o “eu do futuro” fosse um estranho, e o “eu do agora” quisesse aproveitar enquanto pode. Afinal, quem garante que o amanhã vai chegar?

Só que essa mentalidade pode nos deixar presos em um ciclo de gastos imediatos, sem pensar nas consequências. Quando percebemos, já estamos endividados ou sem reserva para imprevistos. Por isso, criar mecanismos que “enganem” esse viés como automatizar investimentos ou usar contas separadas para metas específicas pode fazer toda a diferença.

O efeito manada: gastando para pertencer

Você provavelmente já ouviu alguém dizer que comprou algo “porque todo mundo estava comprando”. E talvez já tenha feito o mesmo. Isso é o que chamamos de efeito manada: a tendência de seguir o comportamento dos outros, mesmo sem refletir sobre ele.

Na era das redes sociais, isso se intensificou. Vemos influenciadores exibindo produtos, amigos viajando para lugares incríveis, casais jantando em restaurantes badalados. E mesmo que a gente não perceba, essa enxurrada de imagens pode criar uma sensação de obrigação. Como se, para fazer parte, fosse necessário consumir o mesmo.

A economia comportamental revela que, em muitas situações, gastamos para sentir que pertencemos. Para mostrar sucesso. Para evitar o medo de ficar de fora. Só que esse tipo de gasto tende a ser insustentável, porque não vem de um desejo genuíno, mas de uma pressão externa.

Escolhas em ambientes controlados: o marketing sabe o que faz

Pense em uma cafeteria. O aroma, a iluminação, a música ambiente… tudo foi planejado para que você se sinta bem e queira ficar mais tempo e, claro, consumir mais. Isso não é acaso. É estratégia.

Ambientes influenciam decisões. Em supermercados, os itens mais lucrativos ficam na altura dos olhos. Nas lojas, músicas com ritmo lento fazem você andar devagar, aumentando o tempo de permanência e a chance de compras. Em apps, os botões chamativos e o design intuitivo te guiam sutilmente até o carrinho.

A economia comportamental estuda como esses estímulos moldam nosso comportamento quase sem que a gente perceba. E isso nos mostra como é importante estar atento ao ambiente antes de sacar o cartão.

Framing: a forma como a escolha é apresentada importa

Outro ponto curioso é como a forma de apresentar uma opção muda completamente a maneira como a enxergamos. Por exemplo, o que soa melhor: “Este produto tem 90% de aprovação” ou “10% das pessoas não gostaram”? Apesar de ser exatamente a mesma informação, a primeira frase causa uma sensação muito mais positiva.

Esse é o efeito framing ou enquadramento e ele está por toda parte. Uma taxa de administração “de apenas 1,5% ao ano” parece menor do que “15% em dez anos”. Um desconto de 30% parece melhor do que pagar 70%. Essa manipulação da linguagem influencia diretamente nossa percepção de valor e pode nos levar a decisões precipitadas.

O custo afundado: insistindo em más decisões por orgulho

Você já comprou um ingresso caro para um evento e, mesmo sem vontade de ir no dia, foi só para “não jogar o dinheiro fora”? Isso é o que a economia comportamental chama de custo afundado. Trata-se da dificuldade de desistir de algo só porque já investimos tempo, dinheiro ou esforço naquilo.

Esse viés nos prende em situações ruins. Continuamos em cursos que não gostamos, insistimos em produtos que não usamos e até mantemos serviços desnecessários, tudo por não querer “perder” o que já foi gasto. Mas o fato é: o dinheiro já foi. A melhor decisão é pensar a partir de agora, e não do passado.

Pequenas armadilhas do dia a dia

Além dos grandes vieses, existem as armadilhas sutis. Como aquela sensação de que R$ 50 em dinheiro físico “dói” mais do que no cartão. Ou o fato de que parcelar em 10 vezes “de R$ 19,90” parece inofensivo, mas, no fim, vira um rombo no orçamento.

Tudo isso tem explicação. Cartão de crédito, por exemplo, reduz a dor do pagamento porque não vemos o dinheiro saindo. Já o parcelamento fragmenta o valor, fazendo parecer menos significativo. E isso afeta diretamente nossa percepção de gasto.

Como usar a economia comportamental a seu favor

O mais interessante é que, ao entender esses mecanismos, você pode criar estratégias para se proteger deles. Por exemplo:

  • Automatizar transferências para a poupança ou investimento, reduzindo a chance de gastar o dinheiro antes
  • Criar metas visuais, como gráficos ou jarros com etiquetas, para ver o progresso e se motivar
  • Estabelecer “tempo de espera” para compras não planejadas, como 24 horas antes de decidir
  • Deixar o cartão de crédito fora da carteira, usando só quando realmente necessário

Pequenas atitudes como essas ajudam a contornar nossos impulsos e tomar decisões mais alinhadas com nossos objetivos.

Entre razão e emoção, a consciência é o ponto de equilíbrio

Entender como a economia comportamental influencia nossos gastos é como descobrir o código secreto das nossas decisões financeiras. Não para nos culpar ou nos tornar paranóicos, mas para nos libertar da ilusão de que somos 100% racionais e usar isso a nosso favor.

Tomar consciência dos nossos padrões, emoções e gatilhos é o primeiro passo para gastar de forma mais inteligente, equilibrada e alinhada com o que realmente importa para nós. Afinal, dinheiro não é só número: é ferramenta. E quanto mais soubermos como a nossa mente lida com ele, melhor saberemos usá-lo a nosso favor.

Você não precisa ser um expert em finanças para mudar sua relação com o dinheiro. Basta começar observando seus próprios hábitos, questionando suas escolhas e, acima de tudo, acolhendo suas emoções sem deixar que elas decidam tudo por você. Porque, no fim das contas, gastar bem é mais sobre autoconhecimento do que sobre matemática.

Henrique Paiva é especialista em finanças pessoais e empreendedor digital. Com mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro, ele se dedica a ajudar indivíduos e pequenas empresas a alcançarem estabilidade e crescimento financeiro por meio de estratégias acessíveis e práticas. Carlos é fundador do Blog Infin, onde compartilha artigos, dicas e análises sobre crédito, investimentos e planejamento financeiro. Seu compromisso é promover a educação financeira como ferramenta de transformação pessoal e profissional.​

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